olhos

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Friday, March 30, 2007

Sistema Digestivo

Sentado na sanita, G faz uma estranha pergunta:
- "Mamã, sabes como é que eles metem a comida no cocó?"
E responde sem esperar a minha resposta:
- "Os senhores dentro da barriga é que metem a comida no cocó."

É, portanto, um sistema simples.

Nós comemos a comida, ela vai para a barriga e os "senhores", que estão lá à espera dela, pegam nela e "põem-na no cocó". Depois a comida sai do nosso corpo com o cocó. Segundo G, o sistema digestivo são "uns senhores da barriga que põem a comida no cocó".

Pois é isso mesmo que acontece!

Thursday, March 29, 2007

Quem não inventa letras de canções?

Quem não se lembra de cantar canções com letras que, anos depois, sabemos estarem estupidamente erradas?

Eu ìa à missa com a minha avó e repetia papagaiamente as lenga-lengas sem as perceber. Faço ideia das parvoíces que dizia e as únicas que eu gostava eram a do anjo-da-guarda (que conseguia entender) e aquela parte do Pai Nosso: "não nos deixeis cair...". Isto porque para quem passa o dia a correr, a vaguear pelas hortas e a andar de bicicleta cair era o pior que podia acontecer. Faz ferida...

Com 4 anos, G canta a música das "Pistas da Blue":
- "Está na hora do adeus. Obrigado por serem companheiros robôs. Descobrimos juntos as pistas da Blue..."
E respondeu-me com um "Não é «tão bons». É robôs!"... Faz-lhe mais sentido.

E nas "Doidas andam as galinhas", o galo não será comandante de um batalhão porque ele nem sabe o que isso é. E canta: "É o comandante deste bacalhau". Nem lhe digo nada...

Outros que ele adora são o Woody e o Buzz e várias vezes brinca aos super-heróis levantando os bracinhos e gritando "Para o infinito e mais além!". Era capaz de jurar que ele dizia bem até que, no outro dia, apanhei-o a dizer: "Ao alfinete e mais além!". Tive vontade de dar uma gargalhada mas contive-me...

Wednesday, March 28, 2007

Sentido figurado

Há coisas que não se podem exigir a uma criança!

G, com 2 aninhos, tentava explicar alguma coisa ao pai e este não conseguia identificar o que era. Diz o pai:

- "Não estou a ver, amor."
- "Ó papá, não é para ver. Estamos só a falar!"

Monday, March 26, 2007

Aprender a ler...

Durante a primeira classe, como quase todas as crianças, fui aprendendo as letras gradualmente, uma de cada vez e formando palavras com as letras que já conhecia.

Ávida por aprender, tentava ler tudo o que encontrava e deparava-me com algumas dificuldades.

Um dia, em casa, peguei num livro que gostava muito e que se chamava "Hópi troca tudo". Tentei ler. Já conhecia todas as letras envolvidas... excepto o H. Lembro-me de ler ao contrário: li primeiro o tudo e o troca sem grandes problemas. Depois veio o Hópi. O p e o i faz pi, ó com pi faz ópi... "E agora esta letra é um agá." Como não conhecia o valor da letra resolvi aplicar o bê-à-bá que conhecia. Se bê-ó-bó então agá-ó-agó (só este pequeno passo foi uma dificuldade imensa!! - conseguir ler o agó). Depois disto só falta juntar o pi. Então agó e pi faz agópi. BOA!!!

Fui ter com a minha mãe à cozinha, feliz e orgulhosa, e disse-lhe "Olha, mamã! "Agópi troca tudo"! A minha mãe olhou e disse: "Não é Agópi, é Hópi. Hópi troca tudo."

Fiquei como burra a olhar para um palácio. Então era tão fácil... Isso já eu tinha lido há imenso tempo...

Thursday, March 22, 2007

Arranjos e consertos

Para as crianças tudo é fácil!

Quer dizer, refraseando: para as crianças, tudo é fácil... para os adultos!!

Ora reparem no diálogo ocorrido numas férias de verão, em 1990 ou 91, entre a C. de dois anos e a avó.

C. entra na cozinha e encontra a avó sentada no borralho.

C. - Ó avó, liga a televisão!
avó - Não dá, está estragada, filha.
C. - Põe-lhe fita-cola!

Wednesday, March 21, 2007

Ida para a escola...

Quando era pequena ìamos para a escola com a minha mãe, a pé, descendo uma rua por onde poucos carros passavam (naquela altura, hoje nem por isso...).

Nem havia ainda passeio do lado esquerdo e nós ìamos na berma da estrada, sempre apressados (como entendo agora essa pressa!). Andava lado a lado com a minha mãe e, volta e meia, tinha de dar uma corridinha porque ficava para trás. Irritava-me aquela corridinha e, de todas as vezes, pensava: "Agora vou atenta e dou sempre os mesmos passos que ela" e atentava no número de passos que dava e imitava... Ficava para trás. E corridinha... Que irritação! "Mas agora vou dar os mesmos passos, ela não corre, vou conseguir..."

E ficava para trás... Só anos mais tarde percebi porquê...

Tuesday, March 20, 2007

"Eu já parti a cabeça!"

Esta era uma frase que, volta não volta, se ouvia na escola primária. E eu, que nem era assim tão calma mas devia ter uma cunha com o poderoso, nunca parti nenhum osso, cabeça incluída. Tão ingénua e sem experiência na matéria que achava que "partir a cabeça" era ficar sem ela, ou seja, sinónimo de "decapitar".

Não imaginam o pequeno nó que se formava na minha cabecinha quando ouvia esta frase de algum colega, ou pior: "Eu já parti a cabeça duas vezes!" e eu a olhar atentamente para o pescoço deles e a pensar, por não ver qualquer cicatriz: "Curioso... E não se nota nada..."

Monday, March 19, 2007

O meu pai!

Quando viémos para Portugal o meu pai ainda ficou em Angola.

Vinha visitar-nos nas férias e eu achava que ele era o maior!! O meu pai era o melhor, estava sempre bem-disposto, nunca me batia nem se zangava e brincava muito comigo.

Eu ficava maluca quando o meu pai estava para chegar!! Vibrava com a ida ao aeroporto para o irmos buscar! Aquele aeroporto da Portela antigo, com um chão laranja com bolinhas em relevo (como a tiloleira que os meus pais, 20 anos depois, puseram no quintal da casa), com umas janelas de vidro onde se podia espreitar os recém-chegados a tirarem as suas malas dos tapetes rolantes e com muitas colunas entre as quais podia correr e esconder-me dos meus irmãos enquanto esperávamos a chegada do papá. Era um momento fantástico!

Sempre se disse que as meninas são dos pais e eu, por estar afastada dele, acho que era mais ainda! Uma vez fomos de férias a Luanda, ter com ele. Eu tinha uns 8 anos. Sempre adorei calor e achei aquela terra fantástica! Chovia a potes e eu tinha um vestido de alças: era magia! E o meu pai sentou-se numa cadeira a ver as estrelas, pôs-me ao colo e disse-me que olhava para as estrelas quando tinha saudades nossas (tal como o Mufasa disse ao Simba!!, no Rei Leão). O meu pai era mesmo o máximo!

Quando o meu pai veio para Portugal houve coisas que esmoreceram, claro! Ele começou a zangar-se, bateu algumas vezes mas continuou a ser o máximo. Sabia TUDO o que nós lhe perguntássemos, arranjava qualquer coisa e, às vezes, quando víamos televisão ele, mesmo de costas, percebia o que os senhores diziam, sem ler as legendas nem nada!! Fazia-nos tostas mistas ao pequeno almoço de domingo e levava-nos a passear a sítios fixes nos domingos de sol.

Quando poupei dinheiro para o meu rádio, foi ele que me levou a comprá-lo e me ajudou a escolher (ainda tenho esse rádio!). Ofereceu-me a minha primeira aparelhagem e deu-me dinheiro no Natal com o qual abri a minha primeira conta no banco.

E no dia do pai não me esqueço dele... Um feliz dia para ti, papá!

Thursday, March 15, 2007

Quando eu era criança...

... pensava cenas estranhíssimas. Só de me lembrar disso faz-me rir sozinha várias vezes.

Também é o facto de ainda me lembrar de todas essas tolices que me faz entender e empatizar tanto com as crianças e a forma como vêem o mundo.

É também por essas recordações que vou começar este blog...